21/04/2014

Cartas de Évora IV

Dei-me conta que não voltei ao Porto desde o dia em que nos conhecemos. Hoje, ao refazer a mala, descobri-me demasiadamente amarrada, com o peso de um para sempre que subsiste aos lutos que te fiz, com o desespero que é lembrar-me do que ficou por nos acontecer.
Encontrei fotos do hotel onde te vi pela primeira vez e percebi que te escreverei cartas até morrer. Foi por despeito, por negação e por raiva e hoje escrevo-te finalmente por tristeza. Sinto-te no balançar de todas as minhas viagens, em todos os homens de sotaque, em todos os cais de partida.
Percebi enfim que te amei demasiadas vezes, muitas mais do que as que materializei. Dei-te o melhor de mim, durante demasiados anos, e ainda ontem, o meu avião tocava na pista e eu deixava as lágrimas correr, indiferente ao molhado que desenhava no pescoço, no colarinho da camisa, na minha vida.
Trai três homens contigo e só do último te arrependeste. Foste sempre uma mentira na minha história - uma mentira porque ninguém acreditaria na nossa verdade.
Hoje sei, enfim, que te levarei sempre comigo. Acordarei todas as manhãs perguntando que horas serão no teu fuso horário. Perguntando se terás visto aquele filme, se conhecerias aquela música. Não concebo mais que te voltarei a ver - a negação foi embora, finalmente. Mas continuarei a procurar-te em todos os estranhos do mundo, em todos os bancos de aeroporto, em todas as filas de trânsito.

1 comentário:

Carlos Soares disse...

já estava com saudades tuas...