26/11/2008

Ensaio sobre a Cegueira


Ficas com a certeza que as mulheres valem muito mais que os homens. Ficas com a impressão que irias até ao fim do mundo pela pessoa com quem queres partilhar a vida. Odeias os homens, odeias a anarquia, odeias o relativismo com que se decide que o bem comum vale mais do que o bem individual. Sentes, num espaço de minutos, o nojo que seria teres olhos quando mais ninguém tem, mas também o alívio de teres quem te siga e te corrija toda a merda que fazes. Não imaginas a dificuldade de achar normal que, no limiar da dignidade humana, sejas traída por quem deste absolutamente tudo.
Este filme é soberbamente decrépito, se é que tal coisa é possível. Senti raiva, desespero, ansiedade, admiração, alívio e medo, tudo numa enorme bola de metáforas a ultrapassarem todos os limites que o cinema tinha para mim. Lamentei particularmente a ideia de sacrifício voluntário em troca de coisa nenhuma. A capacidade das mulheres se entregarem tanto por tão pouco, sem que lhe possas chamar unicamente estupidez, amor genúino ou mesmo cegueira. Afinal de contas, não existe necessariamente um lugar para todos nós. Alguns têm de morrer porque estão a mais. Aleatoriamente. Sem justiça ou igualdade de oportunidades. E podemos perder ou ganhar apenas por sermos mulheres. Mas temos definitivamente mais a perder do que a ganhar.

20/11/2008

Cartas de Coimbra XIX


regards. by moumine



Ontem sai de casa ao cair da noite, com o sol ainda a desenhar-te no fundo da minha vida. Corri pelos passeios pintados de folhas amarelas, e não cai, nem tropecei, nem chorei, nem tão pouco tive medo. Soprei todo o ar que tinha nos pulmões, fiz voar as folhas, fiz de conta que podia tudo, naquele momento, quiça em todos os instantes que lhe precederam. Senti a tua falta mas não faz mal. Não passou de um lugar-comum, meu amor. E eu até trazia a tua música nos ouvidos – trazia-a apertada contra o coração, demasiadamente espantado de existir.
Ontem sai de casa ao cair da noite, de encontro marcado com as 6 milhões de formas de me fazeres sorrir. Por favor, é segredo e eu tenho a vida toda para te prometer um exclusivo. Há modéstias que não te acentam bem, e eu serei sempre o teu mistério. Promete-me, por favor, que serás perspicaz o suficiente para saberes o que não quero ser, nem aqui nem em lugar nenhum.
Hoje a minha verdade seria mentira há um ano atrás. E eu lamento que nos mintam e que nos obriguem a mentir também. Chamam-lhe ciclo. Eu chamo-lhe pena. Pena dos que suportam desilusões do tamanho das minhas, sem nada que eu possa inverter. O tempo não cura, o tempo só escreve por cima. Apesar do que nos dizem. Quem me dera que estivesses aqui. Não por mim, mas para que vejas, por ti próprio, a vida como eu a vejo. Aqui tudo faz muito mais sentido, porque as emoções nos levam ao limite da honestidade e nenhum de nós consegue passar sozinho por este lugar. Tudo custa muito mais, meu amor, e por isso mesmo, os sorrisos são maiores, os abraços mais fortes, as conversas sérias menos frequentes. Aqui fazemo-nos espelhos uns dos outros, aqui somos ombros amigos a qualquer hora do dia ou da noite, aqui as palavras valem muito pouco.
Ontem sai de casa ao cair da noite e aprovei cada segundo para te prometer que, no virar da semana, voltarei para ti como sempre faço.

10/11/2008

Oxalá...

Fui buscar a iniciativa à porta ao lado, Dança dos Erros. Uma fotografia. Um grupo musical. Dez respostas que sejam títulos de músicas do grupo escolhido. Façam também. Dá que pensar: as infinitas formas de falarmos sobre nós próprios, em linguagem musical, ou nem tão musical assim.

Madredeus. É a minha escolha. Dá-me respostas, não precisa de apresentação nem tradução. Não é tão pouco a minha forma preferida de música . Tenho momentos. Desdobramentos de mim que se lêm melhor à sombra de músicas assim.

A foto... bem, a foto deixo-a aos vossos olhos. Leiam-na à luz da música que se ouve hoje aqui.

1. És homem ou mulher?
E o que é que ficou da Lisboa antiga?
Eu não sei ainda
.
2. Descreve-te:
Diz-me tu que eu nunca sei



3. O que as pessoas acham de ti?

A Barca da Fantasia

O meu sonho acaba tarde
Acordar é que eu não queria


.
4. Como descreves o teu último relacionamento:

Antes de haver Manhã,
Há-de haver Madrugada


.

5. Descreve o estado actual da tua relação com o teu namorado:

Adoro Lisboa
E as histórias que tem
E sei que há muita gente que adora também

.

6. Onde querias estar agora?

Quando avistei ao longe o mar
ali fiquei
parada a olhar
.
.
7. O que pensas a respeito do amor?
Eu sei quem és para mim
Haja o que houver
Espero por ti
.

.
8. Como é a tua vida?
Carreiro Deserto,
Tão longe e tão perto
Anseio Secreto, encontro mais certo


.
9. O que pedirias se pudesses ter só um desejo?

Vem

Sou como tu
da mesma Luz
do mesmo amar
.
.
.

10. Escreve uma frase sábia:
Os pássaros quando morrem caem no céu