28/01/2008

Cartas de Coimbra IV

by Steffen Ebert


Depois da noite de ontem eu soube que o que se esgota por falta de vontade não se repõe nunca mais. Ou assim deve ser. A cerveja há de nos servir de alento nas noites mais frias, Coimbra terá pretensões de substituir o que não tem volta e nós dois seremos exactamente aquilo que nos tornámos, contra todas as formas que tens de te resguardares do que queres tentar e pensas que não deves. Sabes bem que foste feito para isto. Que o chão que pisas não é mais o chão que queres pisar. E quem se farta por fartar e quem se farta porque querer conhecer pessoas novas não merece nada mais, disseram-me, e isso eu não te perdouo, por que não o confessas e me mentes como, agora eu sei, sempre mentiste.

No destrocar dos pares, esta noite não fui tua, mas apenas minha – I didn’t lose my mind, It was mine to give away , tal como nos dizia a música. Esta noite brindei ao que sempre te disse, que um dia me deixarias, que partirias por estar cansado de mim e dos meus silêncios. Mas depois estou sóbria de novo e lembro-me que eram os teus silêncios, e não os meus, e que eram as tuas distancias, e não as minhas, que nos matavam todos os dias. Não era a minha insegurança, era a segurança que não tinhas para me dar, apesar de todas essas palavras esgotadas que disseste enfim, quando já não havia mais nada a fazer por nós. E eu, meu amor, eu sempre soube que seria bem mais fácil para mim assim. Mas quem corre por gosto não deveria cansar e aceitei-te tudo porque o amor é para os parvos – e eu não fui nada mais que uma parva.
Pelo menos agora o destino segue o rumo que se ocasionou que seguisse, sem já quase nada que me prenda aos dias que deixei para trás, onde ficaram os primeiros grandes amores da nossa vida fácil. Agora preciso de um primeiro amor difícil. Um daqueles, moderado o bastante para entender com que linhas se cose uma relação – preparado para que nem tudo se faça dos jardins, e das noites e tardes imensas daquele mês de setembro, para que nem tudo sejam manhãs intermináveis do amor de lençóis que construímos, do amor de Verão que não quisemos.

22/01/2008

"my own springtime"

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Olá a todos. Estive ausente e no entanto sempre aqui. Estive ausente e no entanto com as mãos sobre a teclas e a necessidade sobre as palavras. Estive ausente e sempre soube que um dia acabaria por voltar. Triste, claro está, mas sim, eu um dia acabaria por voltar. Depois de arrumar a minha vida, de encaixotar metade do passado, de arrefecer os ódios – e as paixões interditas também.
Desde então que aprendo todos os dias como se vive sozinha. Aprendo como se perde. Como se perde o melhor que se tinha e como se recomeça aparentemente com quase nada. E os recomeços não são fáceis, concordarão comigo. Os recomeços precisam que acertes o compasso com as novas pessoas com quem vais ter de viver de agora em diante. Os recomeços precisam que fiques feliz com as conquistas pequenas, com os gestos miúdos, com a presença mesmo que calada dos amigos que te sobram e dos que, aos poucos, vão confiando em ti.
No fim de tudo, sabes enfim que estiveste este tempo todo sozinha. E que não vais querer voltar a casa nunca mais, porque Lisboa, ou esse sítio de onde vieste, se revestiu de tristeza com tudo o que lá deixaste – ou com tudo o que lá perdeste. Não vais voltar porque a luz se apagou, porque aquela chama pequenina cá dentro, de tanto tremer, se apagou. Não vais voltar porque agora o simbolismo das coisas é outro. Não vais porque lá ficou talvez a melhor pessoa do mundo e com ela todas as noites no jardim e todos os beijos e todo um amor que parecia inesgotável.

Este blog foi feito em nome de alguém que sempre o mereceu até ao dia em que não soube explicar porque me deixava quando eu mais precisava dele. Até ao dia em que não soube dizer porque me deixava quando eu mais precisava de alguém. Desde o inicio, era o nome dele nos contornos de todas as dúvidas, de todos os dissabores, de todas as alegrias, que exprimi sempre com tanto medo para que não fossem efémeras. Mas agora tudo isso me morreu nas mãos, sobre as teclas, na distância que me faz detestar Lisboa e a saudade que ela deixou de trazer. Dá vontade de acreditar que todo este blog foi em vão. Os caprichos de uma poesia triste que chorava uma história de amor ainda mais triste. Não me quero lembrar do quanto fui feliz com ele, porque as vezes dou por mim a pensar que fora melhor não o ter conhecido. Não, não... a minha vida não era só ele. A minha vida continua a multiplicar destinos e a tentar existir no meio das outras. Mas a melhor pessoa do mundo cruzou-se comigo e disse que me amava. E depois tornamo-nos amantes incompatíveis sem paciência para a distancia ou para a vulnerabilidade dos destinos que se adiam. Mas, prometo-te, eu um dia hei-de ser feliz outra vez.
Com alguém que me ofereça flores.