29/11/2007

Cartas de Coimbra III


Sabes, por mais que diferentes, nada mudou. Nada mudou desde aquela altura em que éramos dois no parapeito de um conhecimento e de uma felicidade que nunca, alguma vez, viriam a ser realmente nossos. Nada mudou desde que eu soube, bem cá dentro, que te amava e que toda a minha tola tristeza era por, um dia, tu ires embora como a mais natural das consequências da vida.
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E nada mudou porque continuo, contudo, a ser sozinha, digas lá tu o que disseres. Sozinha, de um amor impetuoso e obstinado, levando-te o coração nas mãos como dantes, com a diferença de que agora já não em silêncio. Agora com o luxo dos beijos intensos que pretendem compensar as tantas vezes que esperei por ti sem que tu viesses. O luxo das mãos dadas que, apesar de tudo, não consigo trazer quentes. O luxo de uma vida que empurramos prometida mas que hoje, eu sei - nada vai ser como nós quisemos.

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E eu continuo a precisar de mim sozinha, porque tu não me podes entender – não quando eu te digo que penso e sei que a eternidade é demasiado (pouco) para nós dois. E hoje, meu amor, não dói tanto porque também eu vou precisar, um dia, de recuperar a parte de mim que quer ser mais que os homens, e que o amor dos homens, e que as relações dos homens. Também eu vou querer ver o mundo. Também eu vou querer cumprir profecias, roçar utopias com a ponta dos dedo, abraçar o trabalho e esquecer-me de mim. Também eu vou querer seguir com a minha vida, como tu hoje me mandas fazer. E nessa altura, meu amor, talvez me consigas ver de todos os ângulos e não apenas daqueles de que precisas. Talvez consigas harmonizar as palavras com os actos e até mesmo esqueceres-te de ti.

Prometo-te que serei feliz, der lá por onde der…

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Sempre tua,

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28/11/2007

Cartas de Coimbra II


Esta música custa-me como se te contassem a tua própria vida de trás para a frente. O redor de muitos medos que não costumavas ter porque eras livre para te renderes no mundo sem olhares para trás. Para abraçares os feitiços de todos os homens e de todas as mulheres também. E agora é só o que tens. A tua vida encaixotada na dispensa das vidas, cantada aos ouvidos para que não esqueças que pelo menos tentaste e até acreditaste que podias ser feliz assim. Não fosse o medo...

E esta música custa-me como nos custam os primeiros fins. Custa-me como nos custam as primeiras distâncias, as primeiras certezas, os primeiros impasses. Como te custam as músicas que falam do que ficou por dizer, mas que sentiste em todos os centímetros de ti. Em todos os lugares em que paraste e desejaste ter tido alguém para os partilhares e te partilhares a ti, assim, naturalmente. Agora, peço apenas que oiças. E que me oiças a mim também.

07/11/2007

Cartas de Coimbra I


Sabes... penso em ti todos os dias. Na roda viva deste destino que não escolhi. Nem escolhemos. E, sabes, sento-me todos os dias quando chego a casa nesta cadeira e choro um bocadinho. Por nós dois. Fixo-me no silêncio que sobra quando percebo que vivo sozinha e longe de ti. Mais que isso, choro ao lembrar-me que a tua vida me passa o lado todos os dias e que no meu lugar outras tantas partilham tudo o que em ti me faz falta hoje.
Ainda na outra noite me pediram que falasse de ti. Sem querer, sem sequer esperar, chorei um bocadinho. E, sabes, por mais força, por mais máscaras, por mais persistência que juntemos ao rosto com que enfrentamos o dia... eu sei que no fim, eu vou chegar a casa e sentar-me nesta mesma cadeira e, novamente, tu não vais ca estar, tu não vais ligar, não me vais responder a mensagem que te deixei no computador para quando enfim chegasses a casa, e que depois de tudo isso, eu vou chorar, porque te sinto fugir, porque tu estas longe e eu longe estou, porque outras pessoas entram na tua vida e na minha também e o inevitável custa demasiado.
E nessa noite, por um bocadinho de lágrimas eu disse talvez tudo. Porque a vida hoje não me chega e dá me medo. Medo que um dia volte e tu já não esperes por mim. Hoje agarro-me aos últimos feixes de luz que entram pelos cortinados e escrevo-te sobre estas ultimas lagrimas que me secaram na pele. Amo-te como nunca achei possível. Como nunca me achei capaz. Mas a verdade é que te amo e esse será sempre um motor para perceber que no mundo o que se perde e se ganha é demasiado para admitir a individualidade como uma condição. Vivo de ti e da certeza que compensarás sempre tudo. Tudo, tudo... Da certeza de que sobre as lagrimas secas, outras tantas hei-de chorar. Por ti...